O Dilema das Notas Mínimas: Como Equilibrar Desempenho e Inclusão no Colégio Pedro II?

 


     Saíram o resultado dos aptos à correção da redação do concurso para acesso aos cursos de nível médio não profissionalizantes, diurnos do Colégio Pedro II.

     Este ano decidi gastar o meu domingo para fazer um levantamento das notas mínimas em cada um dos grupos nos quais se dividem os candidatos: ampla concorrência (50% das vagas) e cotas (demais 50%).

     A nota mínima para mim, como professor, parece um dado bastante impactante. Isso porque, em geral, é muito difícil (talvez impossível) tratar da mesma forma, numa turma de 40 alunos (com 10 alunos já seria bem difícil), um aluno que entra com nota 1 em matemática e outro que entra com nota 9. Um dos dois sairá muito prejudicado. É um fato difícil de refutar pra quem conhece o magistério na prática, principalmente num concurso relativamente simples como o do Pedro II. É pertinente lembrar que há concursos extremamente mais técnicos e sofisticados oferecidos para os mesmos alunos, como o do Colégio Naval e o da EPCAR. Ou seja, muito longe de poder ser considerado um exame difícil, o concurso do Pedro II segue um mesmo modelo há décadas**, sem muitas surpresas e é bastante aderente ao consenso formado pela comunidade em torno das competências básicas que o aluno precisa dominar para fazer um bom ensino médio. Ou seja, via de regra, não há exageros no caderno de prova.

Portanto,

  • Ou o concurso é importante para a seleção e, neste caso, deixa de ter qualquer sentido admitir uma pessoa abaixo de uma nota mínima (coerente);
  •  Ou o concurso não é importante e, então, simplesmente sorteiam-se os candidatos. Muito mais barato, simples e democrático.

     Não sei quanto a você, mas eu ainda acredito que o concurso é importante. Não é a ferramenta ideal para seleção, mas é a melhor que temos para processos que exigem transparência, que lidam com recursos públicos e que exigem algum nível de expertise mínima dos candidatos aprovados. E admitir alunos que entram no nível médio sem terem conseguido acertar 4 questões em 10 de uma prova comum de múltipla escolha deveria ser inaceitável porque, a partir de um certo ponto, passa a ser praticamente impossível viabilizar aquele salto que precisa ser dado pelos alunos que tiveram menos sucesso na prova de seleção a fim de alcançarem os outros que se saíram muito melhor.

     Incomoda-me muito o silêncio da comunidade (no caso, professores) em torno deste problema, o que parte passa pelo tabu da discussão sobre o nosso sistema de cotas.

     Partindo do princípio que as cotas são realmente necessárias (apesar de eu mesmo ter vários senões quanto a isso), mesmo assim podemos pensar em maneiras de reverter essa tragédia anunciada e já em prática. 

     Uma delas é estender o curso de nível médio por, por exemplo, um ano para os alunos que entraram com nota abaixo de um certo patamar. No primeiro ano, eles iriam se dedicar a aprender o que não aprenderam no nível fundamental, no próprio Pedro II, e só entrariam de fato no nível médio no ano seguinte caso, claro, fossem aprovados neste "ano de nivelamento".

     A outra solução é a óbvia: melhorar, de verdade, o ensino fundamental, em lugar de só fazer publicidade.


Fonte original da informação: https://dhui.cp2.g12.br/dhui_arquivos/ano_2024/certame_0449/oferta_0524/PUBLICAR_RESULTADO_E23.2024.pdf

**Houve uma mudança de exame discursivo para objetivo, mas sem muita mudança na abordagem das questões.

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