Aqui em Paquetá eu compro quase todas as minhas utilidades domésticas na "Casa & Vídeo" local, cujo dono é o "seu Zé".
Essa loja (cujo nome acabei de me dar conta de que não sei) fica no centro de Paquetá e deve ter não mais que 15 metros quadrados. Mas, ao contrário da Casa & Vídeo do continente, onde o atendente normalmente mal sabe o que está fazendo lá, a pessoa que me atende (o seu Zé) conhece com pormenores todas as mercadorias. A maior parte delas ele já utilizou em sua própria casa, sabe a durabilidade, a aplicabilidade, tamanho, textura e até história (quando cabe) de cada uma delas. O preço não é muito diferente do encontrado nas lojas da zona sul (que eu costumo frequentar).
Seu Zé deve ter mais de 60 anos, tem pouco mais de um metro e meio de altura, usa óculos do tipo "fundo de garrafa", é vesgo e acho que é nordestino. Está sempre de bermuda, chinelos e camiseta. A loja dele abre por volta da 7h da manhã. Hoje é feriado e acabei de chegar de lá. Quando chego para comprar alguma coisa, ele está respeitosamente sentado em sua cadeira de praia dentro da loja esperando o próximo cliente. Ele sempre me recebe (e a todos os demais clientes) com o respeito, a hospitalidade e a alegria que cabem a um legítimo cabra nordestino. Na verdade, eu acho que às vezes nem preciso de nada, mas passo lá só para trocar duas palavras com ele e acabo comprando alguma coisa.
Parte da família eu já encontrei por lá (mulher e filho, pelo menos). Todos muito simpáticos e com o mesmo calor humano, sem exageros ou requintes, como cabe a uma família de um legítimo caba da peste.
Não acho que ele tenha sonhos de ter uma loja maior ou abrir muitas filiais da sua loja sem nome - até porque precisaria de outros "seu Zé"s para tal. O negócio, dele, portanto, fere todos os paradigmas de gerenciamento da sociedade contemporânea. E eu acho isso sensacional.
Acabei de chegar de lá. Fui comprar duas mantas para sofá. Na conversa de hoje descobri que - pasmem! - ele NÃO mora em Paquetá!
"Como assim, seu Zé? Como é que o sr. mora em Itaboraí e trabalha aqui?" - eu perguntei, perplexo.
"Você acha que é longe? Pois eu lhe digo: eu saio daqui e em menos de uma hora estou dentro da minha casa. Eu não pego um sinal fechado até lá." - respondeu ele com um sorriso largo.
Foi quando eu descobri que existe uma linha de barco de Itaoca (https://pt.wikipedia.org/wiki/Itaoca_(S%C3%A3o_Gon%C3%A7alo) ) para Paquetá. São barcos pequenos, típicos de pescadores e, segundo o seu Zé, a linha existe há mais de 100 anos. Só o seu Zé vem para a ilha e volta para a sua casa usando esses barcos há 30 anos!
Muito bom ver esse Brasil feito por pessoas humildes e trabalhadoras. Que foge do lugar comum, cria suas soluções e dá certo!
Bora fazer essa travessia aí !!!
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