CERTista

 

 
 
 
     Tem uma frase muito conhecida, atribuída a Martin Luther King, que diz assim:

"Quem aceita o mal sem protestar coopera realmente com ele."

     Veja que ele, apesar da sua luta e do dramático momento histórico que vivia,  não falou "Quem aceita o mal contra o negro...". Talvez porque, simplesmente, NÃO INTERESSA, mesmo,  CONTRA QUEM é o mal.

     Apesar de só haver mulheres no vídeo, e de eu não gostar nem um pouco da expressão  "feminicídio", lutar contra a violência doméstica e contra o estupro, mesmo que a bandeira ressalte apenas as mulheres, não é uma luta exclusiva de um grupo, como o direito de andar sem sutiã, por exemplo. É uma luta que deveria ser de todos.

     E a forma convincente que conheço de mostrar isso a alguém, homem ou mulher, é lembrando que aquela pessoa (normalmente mulher ou criança) que foi agredida, violentada ou morta dentro da sua própria casa poderia ter sido a sua colega de trabalho, ou até mesmo a sua filha ou seu neto.

     Mas esse argumento, embora me pareça o mais convincente, não é o mais coerente. Isto porque, sob essa ótica, eu não precisaria me insurgir, por exemplo, contra o assassinato de índios por madeireiros, uma vez que nenhum conhecido meu é índio. Tampouco contra a morte dos elefantes para extração do marfim, por motivos análogos.

     Homens e mulheres, pessoas de pele mais clara ou de pele mais escura, heterossexuais ou não, católicos, candomblecistas ou ateus, todos devemos nos insurgir contra crimes por motivos torpes, simplesmente porque ESTÁ ERRADO.

     Por isso, não sou feminista, machista, petista, lulista ou bolsonarista. Talvez nem seja humanista (teria que pensar um pouco sobre isso). Se fosse obrigado a escolher, provavelmente optaria por ser "CERTista", embora isso ainda diga pouco pois, da "Santa" Inquisição à Ku Klux Klan, passando por todas as grandes guerras, parte  considerável dos piores horrores cometidos contra seres humanos foram concebidos e protagonizados por pessoas que defendiam o que, a seu ver, era CERTO. 

    E, ainda assim... Mesmo que consigamos conversar uns com os outros e diminuir as distâncias entre o que é certo para uns e para outros, a quantidade de coisas tão erradas no mundo parece tão grande! Desde a ligação de telemarketing que praticamente te impede de ter um telefone fixo até as milhares de crianças que, diariamente, ainda morrem de diarreia na África...

     Por onde começar?


     Não sei dizer.

     Mas vale a pena considerar que qualquer grande jornada começa com o primeiro passo. E que, se mantivermos o foco e se continuarmos caminhando, chegaremos certamente a um mundo bem melhor.

     Quanto ao vídeo, eu vibrei e me emocionei com cada verso e cada acorde. A única ressalva a fazer, depois de tudo que escrevi, é com relação ao trecho que diz "se tocam em uma, respondemos todas". Esse "todas" deveria ser entendido como "todas as pessoas".


Versão com legenda: https://www.youtube.com/watch?v=yi7B3VAVE2M



https://cnnespanol.cnn.com/2020/03/09/cancion-sin-miedo-el-himno-feminista-mexicano-contra-los-feminicidios-que-retumbo-en-el-zocalo-y-en-la-marcha/

Comentários