EmbalaGENS

Parte do texto do vídeo eu escrevi em uma dedicatória meses atrás, na sacola de um presente que dei para uma pessoa que não está mais entre nós. Na verdade, não está porque ela era uma invenção da minha cabeça, assim como quase tudo que chamamos de realidade.

Achei interessante a ideia e decidi estender as poucas frases escritas naquela embalagem e revelar a mim mesmo o que poderia haver além delas.

O vídeo foi produzido de forma sobejamente amadora. Envolveu o uso de vários softwares com os quais tinha pouca ou nenhuma intimidade e algumas habilidades que eu praticamente tive que inventar, como a necessária para a leitura do texto, que envolve um apurado controle da dicção e a aceitação de que a  minha própria voz pode também, mesmo que em último caso, como este, ser usada para este fim.

Dar aula me obriga falar de forma que as pessoas entendam (embora, com muita frequência, eu não tenha sucesso nisso). Durante uma aula, entretanto, a resposta da plateia é imediata. Normalmente, eu consigo ver nos olhos das pessoas que elas não entenderam coisa alguma do que falei; o que me obriga a aprimorar a minha auto vigilância. Isso sem contar que eu não tenho, durante uma aula, a oportunidade de me assistir e de redizer o que havia acabado de dizer de forma desconjuntada. Sozinho, num quarto, de frente para uma tela, este processo de fazer e refazer parece não ter fim.

O projeto que era para terminar em dois meses, me consumiu cerca de seis. E só foi tão rápido porque eu o pari a fórceps.

Este texto não vai mudar o mundo, nem vai marcar uma geração. Mas, pelo menos neste momento, significa muito para mim. Com ele eu tenho a ilusão de que a minha face criativa não está completamente desfigurada. E, em última análise, ilusão é tudo que nos resta.

A única diferença entre a minha ilusão e a dos que estão internados nos manicômios é que eu procuro ancorá-la com coisas que são reconhecidas por um grande número de  pessoas ainda vivas como "fatos" , ao contrário do louco comum, que já se libertou completamente do aconchego desses grilhões .

Não é o melhor texto que já escrevi.

Tecnicamente, não é muito mais do que um "power point metido a besta". Não espere muito mais do que isso.Para mim é como os primeiros passos depois de um AVC. Embora persista a possibilidade de permanecer aleijado para sempre, enquanto há vida, há esperança.

Sugiro que assista aos primeiros dois minutos e, se não tiver paciência de ver tudo, reaja com um coraçãozinho ou umas palmas.

De todo jeito, fico feliz por dividir este momento com você.



Texto completo: http://www.escolademestres.com/images/stories/artigos/Embalagens-Demetrius.pdf

Comentários

  1. Demétrius, adorei. Sensível, sincero e criativo. A sensação depois de ver seu filme é a de ter visitado pela primeira vez um lado da minha consciência. Muito bom. Parabéns!

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