Procura-se um suporte de coroa. Paga-se mal!

Já faz algum tempo que professor no Brasil tem sido pressionado pelo Estado (e pela sociedade ) a assumir outras funções, como pai, assistente social e psicólogo. O Estado achou mais barato não cumprir as suas obrigações, assediando a classe com uma campanha IDEOLÓGICA (em nível institucional) para que o professor assumisse essas funções dentro da escola. Muitos professores, inclusive, compraram essa ideia. Hoje, por exemplo, para muitos (muitos de nós, inclusive), somos EDUCADORES e, não, professores.

A questão é que é bem difícil ser "educador" sem ser propagador de ideologias. Desde dizer que "não pode bater no coleguinha" (apologia da não violência) ou dizer que "devemos  respeitar o macumbeiro, o gordo, o excêntrico" (aceitação dos diversos tipos de pluralidades) até incentivar os alunos a lutarem pela escola, que está caindo aos pedaços (participação política)... Tudo isso é doutrinação ideológica, comportamental e política.

Eu sempre recusei o título de "educador". Eu nunca deixei de ser professor. Mas, por mais isento que eu procure ser, certamente muitas vezes eu fiz (mesmo sem me dar conta disso) doutrinação ideológica. E confesso que, se trabalhasse com comunidades em que a família é mais ausente, eu não saberia hoje dar aula de forma livre de qualquer doutrinação.

E há exageros? Sim, certamente. Exageros por parte do professor e por parte da sociedade. O caso descrito nesta matéria ( http://bandnewsfmcuritiba.com/professor-de-historia-e-criticado-por-dizer-que-nao-existiu-revolucao-sem-violencia/ ) é certamente um exemplo crasso de um desses casos.

Com a tentativa de colocar mais Estado dentro da sala de aula - caso da "Escola (Pentecostal) sem Partido" -, o que já era ruim, entretanto, conseguiu ficar ainda pior. Para a sociedade, o professor é aquele que, ou é santo (trabalha só por amor), ou não conseguiu passar num concurso/vestibular melhor. Em ambos os casos, o personagem "professor" passa a ser uma excelente opção de suporte para ostentar a coroa de espinhos que a sociedade carrega e que não sabe onde colocar.

A questão é que há (há?) poucos santos no mundo... E, sem pessoal, material e técnicas altamente qualificados para lidar com o que deveria ser o principal recurso do país (crianças e adolescentes), as possibilidades de avançarmos em direção a um país próspero e sustentável ficam cada vez mais tímidas.

Quase um consenso, a solução de quase todos os nossos problemas passa pela educação. Deveria ser a bandeira do século, mas cada um vê o impasse da "Pátria Educadora" como se fosse tão simples de resolver quanto promulgar uma lei ou fazer um filme pornô (na pior das hipóteses, um azulzinho resolve!).

Sim, há erros por todos os lados. Mas há pelo menos três coisas que para mim parecem bem óbvias sobre nossos problemas em educação:

1) Dificilmente resolveremos com leis, muito menos com leis feitas nas coxas como o caso da "Escola (Pentecostal) sem Partido";
2) Nenhuma solução funcionará sem dar autonomia ao professor (ou, pelo menos, ao professor que demonstrar merecê-la);
3) A sociedade ainda não está convencida de que a educação é a solução mais barata e definitiva para os nossos maiores problemas.

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